Tenho plena consciência que estarei propícia a sentir falta de coisas que não vivi, de pessoas que nunca tive, mas que meu inconsciente – por ser cômodo demais – acreditou que tinha. Encarar a realidade é necessário agora, mesmo que doa, mesmo que viver no ilusório seja mais fácil, é isso que pretendo fazer.
O aceitamento é o ato mais difícil. Aceitar que viveu uma história que na verdade nunca foi vivida, aceitar que perdeu alguém sem nunca ter tido. Não aceitamos determinadas situações porque idealizamos exageradamente, fazemos planos em excesso e quando nos vemos sozinhos, percebemos que nem a metade do que queríamos que acontecesse foi realizado. A sensação é de ter perdido um membro do corpo, um pedaço de si, uma metade.
Alguns entram em desespero, não sabem exatamente o que fazer. Se acabam, sofrem, fazem de tudo. Outros preferem abstrair. Sofrem sim, mas acabam não se expondo tanto. E aos poucos vão se recuperando.
No início tudo é doloroso, o aperto no peito é constante e o não-aceitamento também. Indagamos-nos por perguntas que na realidade não têm, nunca tiveram e nunca terão respostas. Fundimos nossos cérebros pensando em planos mirabolantes, desejando que tudo volte ao normal, relembrando de coisas que foram vividas.
Sim, a saudade bate, a saudade dói. Desejamos voltar ao tempo só para mudar algumas coisas, para alterar certas coisas que poderiam garantir um futuro melhor.
E a dor é maior quando percebemos que nada disso pode ser mudado, que não é possível voltar ao tempo, que nada depende só de uma pessoa. O jeito depois de todas as fases, situações, dores, apertos no peito, melhoras repentinas é acabar aceitando mesmo porque não há nada o que fazer.
O tempo também auxilia muito, as músicas, um refúgio – onde aos poucos tudo que está preso pode ser libertado também têm seu valor. Ajudam muito ao aliviar a cabeça dos questionamentos e das dúvidas. E aos poucos tudo se encaixa no lugar novamente. Sentimos que estamos preparados para a outra, aprendemos mais, temos mais força para encarar as diferentes situações da vida. E quando menos esperamos a vida nos mostra outro caminho, outras oportunidades e nos oferece novas surpresas.
"... A dor é inevitável. O sofrimento é opcional." - Carlos Drummond de Andrade
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