A porta estava entreaberta quando cheguei e a primeira cena que vi foi você sentado na beira da cama olhando fixamente para o chão. Resolvi entrar sem fazer barulho e fiquei horas te observando.
No rádio tocava aquela música triste que escutávamos quando não estávamos bem. De fato, você não estava bem, mas aquela era o nosso som e tínhamos combinado que sempre escutaríamos juntos.
Achei estranha sua atitude de quebrar o combinado, mas aquilo pouco me importava. Eu queria saber, queria saber o que se passava. Estava nítido que você não estava bem, eu precisava fazer alguma coisa, mas não sabia o que.
Aos poucos fui me aproximando e você continuava do mesmo jeito. Não se mexia, não se fixava em outra coisa, não tinha reparado que estava acompanhado.
Em um momento de desespero, sem saber exatamente que atitude tomar, sentei ao seu lado. Você não se mexeu e continuava a olhar para o chão. Eu, continuando a não saber o que fazer, fiquei instantes com a mão parada no ar com a intenção de passar as mãos em seus cabelos. Decidi passar a mão neles, tentar te acalmar independente do que tinha acontecido.
Quando você notou a minha presença e olhou para mim, pude notar que a tristeza estava presente em seu olhar. E assim, sem mais sem menos, você me abraçou. Fiquei calada, não disse nada, não te pressionei para saber o que estava acontecendo.
Ficamos horas assim. De repente você começou a falar. Disse que tinha recebido uma carta, uma promoção de emprego em outro país. Fiquei feliz por você e te incentivei a ir. Com aquela cara de inconformado – típica da sua personalidade, você disse que não iria sem mim e que sabia que mesmo que me pedisse eu não iria.
Confesso que me senti culpada e cheia de desculpas esfarrapas terminei o namoro no ato. Você não entendeu nada já que fazia tempos que não brigávamos. Obviamente não disse que tal atitude só foi porque eu sempre soube como essa promoção era importante para o seu futuro profissional. Sendo assim, abri a porta que separa a sala de seu quintal e simplesmente sai. Sai correndo sem olhar para trás.
Em meus olhos lágrimas escorriam. Elas se misturavam com a chuva que estava caindo naquele exato momento. Finalmente cheguei em casa, vi que no identificador de chamadas havia várias chamadas perdidas. Todas suas, por sinal. Não retornei nenhuma.
Resolvi sumir por alguns dias. Acredito que você acabou acreditando em minhas desculpas e resolveu ir embora mesmo. Digo isso porque cheguei a me deparar com uma mensagem na secretária eletrônica dizendo exatamente o horário, o dia e em que aeroporto você viajaria.
Chorei demais quando escutei tudo isso, só que a mim não cabia fazer mais nada. Resolvi desistir completamente. Seguir a minha vida já que você tinha decido fazer o mesmo.
O dia de sua viagem chegou. Foi o pior dia de minha vida. Passei a tarde toda desejando que você desistisse. De repente, escutei a campainha tocar. Achei estranho, pouco recebia visitas. Olhei pela frestinha da porta e vi um rapaz com todas as malas na frente do meu portão.
Confesso que não acreditei que era você. Custei para abrir a porta porque estava morta de vergonha por ter terminado tudo sem ter um motivo concreto. Cheguei perto do portão mansamente, abri o mesmo e você me abraçou em seguida. Choramos, choramos feitas duas pessoas que não se viam há anos.
No meio das lágrimas perguntei o que você estava fazendo ali. Você simplesmente disse que não conseguiria viver sem mim. Que não imaginava sua vida sem a minha presença. Foi a partir desse momento que resolvemos voltar e viver dignamente todo aquele sentimento que nos permitiram viver. De fato, fomos muito felizes... felizes por muito tempo.
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