Cada qual com seu drama

Aquele senhor do outro lado da rua deseja uma vida melhor. Talvez tenha sido a falta de oportunidade que o transformou em alguém sem perspectiva nenhuma. Em uma das conversas que tivemos, ele me disse que gostaria muito que as coisas fossem diferentes. Disse também que já tinha sido melhor em suas atividades diárias, foi ai que decidiu largar tudo.
Tinha família, emprego bom. A esposa era dedicada e os filhos estudiosos. Trabalhava oito horas diárias até se envolver com pessoas erradas. Obviamente, todo mundo sabe que cada um é responsável pelas escolhas que faz. Ele, especialmente, não soube arcar com as conseqüências e se viu sozinho. Abandonado por tudo e por todos.
Maurício, já com 39 primaveras completadas, se deu conta que não estava mais sendo um bom profissional na área que trabalhava. Deu uma grande reviravolta na vida. Abandonou o escritório, juntou as economias e partiu para a praia. Decidiu que não faria nada até decidir exatamente o que queria. Acabou se acomodando.
Toda quinta-feira recebo alguns amigos em minha casa para fazer o convencional chá das seis. Semana passada, Alessandra chegou antes do horário marcado. Sentou-se no sofá e entre lágrimas e soluços começou a desabafar.
Contou-me do relacionamento insustentável que o casamento de 10 anos se transformou. Sem bem entender ou até mesmo perceber ela e seu marido caminhavam por caminhos opostos. Os interesses não eram mais os mesmos. Desconfiava até da existência de uma terceira pessoa.
Definitivamente não sabia o que fazer. Pensou em sair de casa, mas, e os filhos? Certamente seu marido não cuidaria deles, já que nem aparecer em casa aparecia direito. Na verdade ele nunca foi presente. Sempre achou que compensava a falta comprando tudo o que as crianças queriam. A casa da mãe não seria uma boa escolha. Ela já era uma senhora de 80 anos e não agüentaria o pique de duas crianças.
Cada qual com seu drama. Realmente, a vida não é fácil, mas não cabe a desistência. Eles, você, eu, nós. Todos temos problemas. A luta para solucioná-los tem que ser diária e sem hesitação. O que me contenta, na verdade, é saber que nada é para sempre. É tudo fase, questão de momento. Hoje não foi bom, amanhã pode ser melhor. Sempre.