A verdade é que, às vezes, moldamos a nossa vida em torno de outra pessoa. Mudamos alguns horários. Desligamo-nos de certas coisas. Substituímos pequenos fatores da rotina por outros mais acessíveis e mais rápidos para que não haja a falta de contato. E temos a cara de pau de chamar isso de amor, mesmo quando não há nenhum tipo de correspondência.
Encaremos a realidade; por mais difícil que isso seja. Amor não é isso, tendo reciprocidade ou não. Ninguém merece sofrer. Ninguém merece deixar de viver por conta de outro alguém.
É certo. Cada um escolhe exatamente o que é bom para si. Cada um tem o total livre arbítrio nas decisões que pretende tomar. Totalmente clichê falar isso, eu sei. Mas sempre há um “porém”, e a desistência, em certos casos, se torna o melhor caminho a seguir; principalmente quando o ser amado não sente o mesmo por aquele que ama.
Fácil é saber da teoria. Colocar em prática são outros quinhentos. Quando se ama, por mais insustentável que o sentimento seja, sempre há aquela pontinha de esperança. E fazemos do “será?” nosso melhor amigo. “Será que ele gosta de mim?”, “será que ele vai gostar de mim?”. São muitos será’s para um simples fato.
Por isso que muitos optam pela ilusão. Acabam se acomodando e transformando simples laços em longos nós que, futuramente, se tornam mais difíceis para serem desatados.
Somos capazes de criar infindáveis limites em manifestação à desistência. Fingimos para nós mesmos que o cansaço não existe. E ele existe; no fundo sabemos disso. Ter a consciência de algo e conseguir encarar a verdade são ações totalmente diferentes e que raramente se cruzam. É muito mais fácil viver no irreal e acreditar no que exatamente se deseja, mas até quando?
A questão é que não há corpo que agüente, mente que suporte e prática do desapego (sempre fora de cogitação) começa a ser pensada. Não há outra maneira a não ser largar tudo o que foi rotineiro um dia e começar a viver uma vida nova.
Os horários mudam. O coadjuvante passa a ser o personagem principal de uma história que deveria ter sido sua desde o começo. É a hora de começar de novo, de zerar as circunstâncias e deixar um pouco o coração de lado.
No começo tudo é difícil. Sentimo-nos sem chão, sem um porto seguro que, na verdade, nunca existiu. Notamos que projetamos o futuro de uma forma errada, que incluímos alguém em uma história que existiu unicamente para uma pessoa só.
De princípio o orgulho pela coragem da mudança é aparente. É confortador saber que fomos capazes de escolher por nós mesmos. A verdade é que todo mundo está suscetível à saudade, eis que ela aparece.
Aperta no peito, trás as lembranças e se transforma em abstinência. Tudo é uma questão de costume. De abstinência ganhamos de presente o realismo. E é partir daí que o olhar de participante da história passa a ser o de telespectador. Enxergamos a verdade, por mais que ela doa.
E aos poucos vamos tomando consciência que é possível amar mais de uma pessoa em tempos e circunstâncias diferentes. Que aquele amor que sentimos um dia foi daquela pessoa e naquele momento. Nada é eterno.
4 comentários:
Te entendo, como a mim mesmo.
As vezes amamos pela metade, e nos damos esse meio-amor de presente, completamos com qualquer coisa, com os sorrisos que não existiram, com os abraços que queríamos.
Mas um dia esse meio-amor-inteiro se parte, é quando vem esse desapego, essa desistência da qual falas. É impressionante como os ventos pelos quais passamos são parecidos. Força daí, que daqui eu também farei o melhor.
Bjs.
Nilton
Olá Gabi,
"a desistência, em certos casos, se torna o melhor caminho a seguir".
"no começo tudo é difícil. Sentimo-nos sem chão, sem um porto seguro que, na verdade, nunca existiu."
"nada é eterno."
São palavras tão lindas e verdadeiras que me calo diante delas, fico impressionada e sem ter mais o que acrescentar, você disse tudo em poucas linhas. Isso com certeza traz muitas reflexões á tona para a pessoa que lê esse texto.
É como revela Vinícius de Moraes: as coisas são eternas enquanto duram... depois que passam, fica somente as lembranças.
Aí então vem o papel do desapego.
Pois é...
Re-co-me-ço.
É isso que vai desabrochando em você. As palavras não escondem. Não me deixam interpretá-las de outro jeito. Não.
Um beijo enorme.
É sei como deve estar se sentindo,tudo muda,novas fases da vida,você a cada vez mais se questiona muito mais e começa a ver que,o sentimento não é apenas um sentimento,mais sim um sentimento com o coração e a razão,que se tem atitudes e expressões,que modifica-se e não se entende nada do que isso tudo quer nos guiar se é para um lado positivo ou negativo,para nós aprender-mos mais sobre a vida.
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