Desde criança gostava das aulas de geografia. Desde pequena escrevia cartas para quem quer que fosse. Demonstrava seu afeto pela família, amigos e até mesmo por seu amigo imaginário com uma simples folha de papel recheada de letrinhas.
Convenhamos que quando era novinha, Maria Luiza não tinha uma caligrafia muito legível. Poucos eram aqueles que conseguiam entender a sua letra. Poucos eram aqueles que acreditaram na promessa que tinha feito.
Aos 10 anos, depois de ter ganhado do pai o tal do mapa-múndi que sempre desejou, prometeu que quando crescesse mandaria cartas para todos os continentes possíveis e imagináveis.
Infelizmente o tempo trabalhou contra e trouxe para a vida da menina a internet. A escola aboliu as pesquisas em livros. Ensinou os alunos a redigir textos pelo computador e mandar tudo o que fosse escrito por e-mail. Definitivamente as caixas de correio deixariam de serem abertas. E foram.
O mapa, apesar de qualquer coisa, ainda estava colado na parede. Na estante, ao lado de onde dormia, ainda existia a presença daquele bloquinho florido e daquela caneta BIC azul. Não tinha desistido de sua promessa, apenas tinha adiado.
Anos se passaram e só cobranças chegavam pelo correio. Nem as cartas que mandara recebiam resposta. Os amigos lotavam a caixa de entrada de Maria e sempre reclamavam que ela nunca respondia.
- Mas eu respondo por cartas. Tenho o endereço de vocês.
- Para que você tem e-mail? Só você vive na era das cartas.
Desistira. Não gastava mais as horas, as mãos, o coração e o pensamento para escrever coisas lindas para aqueles que não davam valor a isso. Escrevia, agora, para desconhecidos. Arrumava não sei aonde endereços de pessoas diferentes e mandava suas cartas sem o real remetente.
Fornecia um endereço qualquer só para ver se alguém respondia. Por vezes era Joana, Melissa, Estefani. Era quem gostaria que fosse quando bem entendia. Sem limitações.
Para não se confundir, comprou centenas de caixinhas de tachinhas para marcar no mapa-múndi os locais onde já tinha mandado suas palavras. Europa, América, África. Quase todos completados.
Na verdade Luiza não esperava nenhuma resposta. Decidira que tentaria alegrar o dia de alguém sem esperar nada em troca. Se respondessem, seria lucro.
Já estava na milésima carta quando encontrou um envelope dentro da caixa de correio que ficava na frente de sua casa. Abriu.
Estefani
Thank you for sending that letter. I received in a moment I needed a lot. I was really sad thinking that nobody cares about me. I have had successive fights with some friends. And after reading your sweet words I decided that I would be sweet with those who I like. While there has been a success. Things are at peace.
Thank you.
Marco Williams*
*Estefani
Obrigado por ter enviado aquela carta. Recebi em um dia que precisava muito. Estava meio tristonho achando que ninguém se importava comigo. É que tenho tido brigas sucessivas com alguns amigos. E depois de ler suas doces palavras decidi que seria mais doce com aqueles que gosto. Por enquanto tem dado certo. As coisas estão em paz.
Obrigado.
Marco Williams
Ficou chocada. Não esperava receber uma resposta. Poderia muito bem ter respondido. Mas não. Decidiu levar a promessa adiante e continuar a espalhar alegria com suas palavras. Guardou a carta, enviou outras tantas. E o que restou mesmo foi aquele mapa-múndi pendurado na parede recheado de tachinhas coloridas.
3 comentários:
Vejo vc perfeitamente ai, na Estefani, juliana.. em milhars que vc pode ser, e fazedo o que vc ja afz... teh certeza q ja ajuda pessoas com seus textos suas palavras, pelo menos a mim muito ajudou..e asssim continua.
Tem dias que a única coisa que eu queria / precisava era receber uma dessas cartas.
Bjs.
Nil.
Maria Luiza, adoro este nome! Falar o que é preciso ser dito, no momento certo para as pessoas certas é um grande diferencial atualmente! Parbéns pelo texto Gabi!
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