Vezenquando andava pelas ruas a procura de um rosto que se identificasse com meu. Observava atentamente os rostos dos transeuntes que, em passos largos, simplesmente cruzavam a minha vida sem perceber.
A pressa não permitia que me notassem. A pressa me impossibilitava de encontrar algo que nem eu mesmo, ao certo, sabia o que era. O que eu tinha eram somente as evidências anotadas em papéis de chiclete que mascava ao decorrer do dia.
Nesses pedacinhos de papel anotava o que sentia, o que se passava em minha cabeça e, por vezes, frases. Simples frases de poucas palavras que eram esquecidas e largadas no bolso direito do meu casaco azul.
Em um dia frio, cumprindo a rotina de perambular pelas ruas, adentrei um Café. Pedi um cappuccino com pitadas de canela e comecei a pensar. Olhando a fumaça que saia da minha bebida, cheguei à conclusão que a busca por algo que nem eu mesmo sabia o que era começou logo que mudei, sozinho, para a nova cidade.
Não tinha mais amigos. A família morava longe. Quem eu amava terminou o relacionamento de anos logo que contei sobre minha partida. Precisava de novas companhias, ou de apenas uma em específico.
A grande questão é que não havia ninguém para suprir essa falta. As pessoas andavam tão apressadas, tão preocupadas com seus afazeres que se esqueciam da própria vida. E o que mais queria era alguém que, por vezes, fosse capaz de desacelerar os passos. Que se rendesse aos pequenos prazeres, fazendo deles algo para serem vividos em câmera lenta.
Feliz por ao menos ter descoberto o que me afligia, abri um sorriso no mesmo instante que meu olhar, ainda perdido, olhou meio que sem querer, para alguém que retribuía meu ato impensado de segundos atrás.
Era uma moça linda que nunca havia visto na rua. Ela, com seu cachecol todo colorido, simplesmente se levantou de onde estava sentada e perguntou docemente se poderia me fazer companhia.
Enquanto caminhava em minha direção, parecia que tudo estava em câmera lenta. Os cabelos esvoaçavam pelo ar a cada passo que dava. O sorriso aumentava a cada vez que chegava mais perto. A solidão, que morou em mim durante muito tempo, não existia mais.
Já sentada em minha frente, comentou que fazia tempos que não via ninguém sorrindo a troco de nada. Que sentia falta de ver esse tipo de cena. E pegando em minha mão, pausadamente falou que não se sentia mais sozinha.
Certamente nos completávamos, tinha que concordar com ela. E naquele momento tudo ficou mais devagar. Unimos a nossa solidão e a transformamos em presença. O mundo apressado e nós dois em câmera lenta. 4 letras, amor.
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