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Desenho lindo que peguei do Felms. |
Entre figurinhas, coleções e bolinhas de gude, uma menina que não conhecia se mudou para o meu bairro. Loirinha e linda, mas com cara de travessa, passava todos os dias na frente da minha casa e acenava para mim quando me via observando o sol na frente do portão.
Eu, como todo garoto no auge dos meus 10 anos, sentia o estômago virar e ficava vermelho quando a via. Por causa disso, passei a esperá-la passar ora fingindo que lia um gibi, ora batendo Tazo sozinho na calçada. Tudo para ela não notar que a achava muito, mas muito bonita.
Certa vez, colocando em prática uma dessas táticas, ela parou de frente a mim, sentou-se no chão e tirou do bolso sua coleção de Tazos. Disse que tinha alguns repetidos e que queria trocá-los comigo.
Sem saber se ria ou se chorava, se fugia ou permanecia ali, empurrei, sem falar nada, todos os que já tinha na direção dela. Pegou aqueles que a interessou, agradeceu e antes de ir embora disse “Ah! Eu me chamo Sofia” emendado de um “Até amanhã”, porque notou meu silêncio.
Entrei em casa, fui até meu quarto e guardei os que ela me deu dentro de uma caixinha cheia de coisas especiais. Por ser tarde, deitei na cama, peguei no sono e só fui acordar no dia seguinte.
Depois de ter comido Sucrilhos com leite no café da manhã, peguei a minha bicicleta e pensei em dar uma volta no bairro já que o tempo estava bom. Abri a porta e lá estava Sofia, batendo Tazo na minha calçada.
“Tô te esperando pra jogar, garoto sem nome”, disse. Essas oito palavras foram o suficiente para me fazer mudar de ideia. Deixei o passeio de lado para brincar com ela. Tirei minha coleção do bolso e amontoei com a dela. “Eu me chamo Gustavo”, falei antes de começarmos a jogar.
Perdi na primeira rodada, mas ganhei na segunda. Notando que o jogo estava equilibrado, alguns garotos que moravam na mesma rua que eu, pararam para assistir, ou melhor, para ver o começo da minha derrota.
Do nada, Sofia começou a me rapelar. Ganhava todas as partidas sem fazer o mínimo de esforço. E a tarde, bem na hora que o sol começou a se pôr, recolheu todos os Tazos – os dela, os que ganhou naquele dia até aqueles que tinha trocado comigo, me deu um beijo no rosto, se levantou e agradeceu.
Apesar de ter ficado com raiva naquela época, hoje, com 10 anos a mais, sinto-me feliz ao lembrar disso. E sabe por quê? Porque posso ter perdido meu brinquedo preferido, mas em compensação, ganhei um beijo do meu primeiro amor.
E primeiro amor, a gente nunca esquece.
4 comentários:
Eu amei isso.
Esse tipo de história, com essa fase de idade dos personagens, com essa coisa toda de receio que vem junto das relações. Bem lindo.
Obrigada, querido.
Acho que todo mundo teve o tal do primeiro amor de infância. E sabe, coisas desse tipo ficam guardadas na lembrança para sempre.
Pra sempre mesmo! A infância é um lance meio universal, sempre nos identificamos com essas histórias, mudam os cenários, os acessórios, mas o acontecido é quase sempre o mesmo.
Hoje é realmente um dia pra sorrir com essas nuances infantis.
Belíssimo texto, Gabi.
Muita coisa na vida das pessoas é diferente, mas o primeiro amor sempre é inesquecível.
É gostoso quando esse tipo de lembrança toma conta da mente as vezes. É tão bonitinho.
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