quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Todo o sentimento

Ao som de Chico Buarque


Chico Buarque embalava o nosso romance. Na vitrola da sala escutávamos João e Maria e protagonizamos o que ele e Nara Leão cantavam.
Rodávamos e rodávamos e quase não perdíamos a órbita. Parecíamos duas crianças serelepes que brincavam até o momento em que ficavam tontas. E caiamos no sofá rindo feito bobos.
Gostava do silêncio que circundava os nossos momentos. As músicas mais belas só fazem sentido de verdade quando se tem alguém para ouvir junto.
Sem perguntar se podia ou não, Chico quebrou o silêncio com esse verso: “Quero ficar no teu corpo feito tatuagem que é pra te dar coragem pra seguir viagem quando a noite vem”. E eu, na ingenuidade da juventude, peguei aquela caneta que te dei de presente e escrevi meu nome em seu braço.
Sem hesitação, você fez o mesmo. Aproveitou a situação e nos desenhos. Escreveu algumas frases. Usou-me de papel por instantes. Coloriu-me e me transformou na sua obra de arte. Sorri.
Já era tarde. Hora da despedida.
Puxei a manga da camiseta que você tinha erguido para nos desenhar. Sussurrei algumas músicas alternadas do Chico e caminhei em direção a porta. Assim como uma das capas dos discos do cantor, deixei só a metade do meu rosto aparecendo.
Gradativamente fui sumindo. Misturando-me aos letreiros e as luzes noturnas da cidade. Deixando assim, as músicas do nosso querido Buarque como lembrança e companhia.
Até o próximo encontro...

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