quarta-feira, 20 de abril de 2011

Trêsemnome

O cara de casaco preto com uma criança no colo. Menina mestiça no colo do cara de casaco preto. Pai e filha. Filha e pai. Era o que aparentava.
Parados na catraca, foram na mesma direção que eu. Pegaram o mesmo trem. Só que em outro vagão.
De companhia, eu tinha “Eu sei que vou te amar” do Arnaldo Jabor. Diálogos entre um casal. Discussão de relação. Verdades e mentiras. Duras e gentis ao mesmo tempo.
O sol do lado de fora, o ar condicionado dentro do trem. Ambiente fresco, exterior quente. Segunda-feira, 18 de abril de 2011. Início de semana. Transeuntes dentro do trem. Dividindo o mesmo espaço que eu.
Exceto o cara sem nome de casaco preto...
Seria ele Gustavo? Ou Felipe? Ou Fernando?
Poderia ser Miguel? Antônio? Ou até mesmo Bento?
Não sei. Não sei.
Só sei que vestia casaco preto e carregava nos braços, a menina mestiça.
Menina mestiça que trajava cor de rosa. Marcela, amarela, magricela? Fernanda, comanda, ciranda? Clarice, fofice, meninice?
Também não sei. Não sei.
Apito. Anúncio de estação. Desci do trem apressada. Fui cortando, cortando a multidão. A multidão me via, me via partindo. Distanciando, partindo, separando, distanciando.
O livro na mão. Cabeça na história. Olhar distraído.
Catraca à frente, muita gente.
Moça de cabelo preso pegou a menina mestiça das mãos do cara de casaco preto. Tiveram algum tipo de relacionamento que resultou no nascimento dessa bambina.
Bambina de volta para cidade dela. Moça de cabelo preso, cara de casaco preto. Cada qual com seu rumo. Cada qual com a sua vida.

E eu, com algum livro na mão. Dentro de qualquer vagão. Sentada a espera de novas visões. Emoções.

3 comentários:

Anônimo disse...

Esse texto tem de uma progressividade e de uns recursos que me deixaram muito preso a ele durante a leitura. Fora a transcrição de algo aparentemente sutil e tão imbricado com a próprio estado de estar inserido nesse corpo conteporâneo muitas vezes tão chato, que você conseguiu rechear com uma amplitude e com um abrir de portas para reflexões fantásticas.

Eu tenho lido tudo.

Com as minhas saudades, até mais.

Anônimo disse...

Daria um belo curta !

Gabi Pasquale disse...

Senhor anônimo,

Você poderia mostrar a sua face?

Obrigada pelos comentários. Visite-me mais vezes.