"Acabou", disse com a voz ponderada. "Não dá para seguir em frente", concluiu.
"Bom...", pensei por alguns instantes. "Não dá para acabar com o que nem começou", finalmente contra-argumentei.
Como já esperava, teve a reação mais clichê do mundo. A palidez tomou a sua pele, esbugalhou os olhos e ficou boquiaberto. Certamente, não esperava por essa resposta. Porém, sempre soube que eu nunca ponderei às palavras.
"Ma...ma...as", respirou fundo para não gaguejar. "Você considera tudo o que vivemos como nada?", indignou-se.
Odeio quem deturpa o que é dito. É por essas e por outras que cada vez mais acredito que as pessoas entendem a informação do jeito que elas bem entendem, do jeito que melhor convêm.
"Não foi isso que eu disse", falei educadamente.
"Mas foi o que pareceu..."
"Olha, sem querer sem mal educada, mas se tem alguém que considera tudo o que vivemos como nada é você. Repare. A ideia de cada um seguir seu rumo não foi minha. E mais, não sou responsável por seus descontentamentos e complexos"
A palidez tomou sua pele, esbugalhou os olhos e ficou boquiaberto novamente. Nunca imaginou que eu fosse dizer isso. Não se movia, não dizia nada. Apenas me olhava com um olhar que até então desconhecia.
Naquele momento poderia dizer o que sentia, mas não o fez. Naquele momento poderia ter me dito palavras duras, mas também não o fez. Poderia ter virado as costas e ir embora, mas se manteve ali, parado.
Parado. Parado. Estático. Por muito tempo. Imóvel.
"Fomos feitos para acabar. Acabar e recomeçar. Não de onde paramos, e sim de onde sentimos vontade. Sabemos das inúmeras possibilidades de darmos errado e mesmo assim continuamos", quebrou o silêncio. "Temos consciência dos defeitos, problemas e complexos um do outro. Relacionamentos não são perfeitos, assim como também não somos. Você encontrará um defeito aqui, outro ali e mais um acolá. Mas o que isso importa, afinal? Mesmo com os contratempos, seguiremos juntos, feitos para acabar".
"Como um ciclo vicioso..." disse, comovida.
E isso nunca vai ter fim.
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