Como seus vinte anos Geórgia nunca tinha vivido um romance e nem se quer um caso tenro de amor. Nunca havia se apaixonado verdadeiramente e muito menos vivido um romance do século XVIII.
Na realidade pouco sonhava com isso, tinha outros interesses para o futuro. Casamento? Desconhecia o que era essa palavra. Preferia muito mais ter um futuro profissional brilhante do que se ver casada.
Geórgia sempre foi diferente. No colégio sempre foi a ovelha negra e que por ser diferente no modo de pensar e agir era vítima de piadinhas e humilhações. Isso acontecia porque via graça nos livros que lia, nos filmes que assistia e nas músicas que escutava. Aliás, a vida dela só se baseava em livros, pouquíssimos amigos, músicas e filmes.
Os sentimentos dela perante o sexo oposto nunca passaram de pequenas paixonites. Queria alguém com cérebro, que pudesse conversar sobre tudo e não alguém bonito exteriormente que quando abrisse a boca só falasse asneiras.
Foi a partir dos dezessete anos de idade que as coisas começaram a mudar. Viu-se perdidamente apaixonada por um menino completamente oposto ao que ela era. Realmente só ela pôde enxergar algo de bom naquela ser que, futuramente, faria tão mal a ela.
Somente Georgina o enxergou através do que ele transparecia ser e o admirava por ter aprendido muito com a vida – que por ela era considerada a “verdadeira escola.” Só que nada do que nossa pura garota o ofereceu foi valorizado. E nem chegou a viver nada com esse rapaz.
Foi a partir daí que resolveu encarar tudo da vida como aprendizado, se tornou mais forte e suas antigas fugas – sempre existentes nela – voltaram com mais força. Lia, escutava músicas, assistia filmes e escrevia em demasia. Foi desse modo que o intelecto dela progrediu.
A partir dessa progressão começou a perceber que pessoas com interesses profissionais, que enxergam a vida de um modo diferente e que possuem inteligência além do convencional têm maior tendência a uma vida amorosa solitária e frustrada. E que com certeza faz parte desse grupo.
Um ano se passou e quase nada tinha mudado. Continuava com a mesma força e se via cada vez mais determinada a ter um futuro brilhante. E foi justamente nesse momento em que ela se viu apaixonada novamente.
Era um fato inédito, tinha tudo para ser diferente... E não foi. As únicas coisas que mudaram foram a história – mas com o mesmo desfecho, o personagem coadjuvante – outro garoto- e as circunstâncias dos fatos.
Por conta da frustração da primeira paixão, se fechou para essa que estava por vir e que por sinal também perdeu. E mais uma frustração foi colocada em sua lista. Só que essa foi mais dolorosa e se sentiu idiota por ter se submetido a certas coisas.
Se não encarasse tudo como aprendizado, se não fosse forte e se não tivesse seus refúgios, com certeza, não aguentaria essa barra. Passou a ler mais, estudar mais, escrever mais, ouvir melhores músicas. Aliás, era essa a rotina dela. Tudo para evitar pensar.
Assistia seus romances e se esquecia daquele que poderia ter sido vivido. Adentrava tanto na história que se sentia como a mocinha dos filmes que sofre por alguém completamente inexistente, imaginário e irreal que não existe no mundo de carne e osso.
Queria muito o homem idealizado. Aquele que declama poemas, faz canções, é cuidadoso, romântico e dedicado. E foi a partir daí que percebeu que era mais fácil mesmo continuar a esperar por alguém que ao menos tenha um cérebro. Isso porque a idealização nunca existiu.
Com o passar do tempo foi percebendo que realmente nunca tinha amado alguém de verdade e que essas paixões eram apenas algum modo de fazê-la crescer – embora já estivesse cansada de tanto fazer isso.
Ao mesmo tempo em que pensava desse modo, também achava que a pessoa certa e esperada ainda estava por vir, e que tudo o que passou foi apenas um preparo para esse tão esperado romance, que ainda não aconteceu. Só que por enquanto encontra-se aposentada de qualquer tipo de sentimento e na espera por alguém que a encante novamente.
Um comentário:
Ameei o texto... E sabe de uma coisa? Essa história me lembrou a história de uma pessoa que conheço. E o nome da personagem me lembrou a época de ensino médio. Ah, saudades da época em que ouvia lamentações e piadas ao mesmo tempo.
Ah, já ia esquecendo! Georgia é sensacional. E tenho certeza que muitos de nós temos um pouco dela em nós.
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