domingo, 18 de outubro de 2009

Descompasso

Atravesso a rua, a cada passo um pensamento diferente. A cada passo sinto o descompasso do coração. Ele palpita, para, palpita forte, se regula. Tento manter a respiração nos eixos, mas não consigo.
Vou seguindo meu caminho e sinto algo entalado na minha garganta. Sinto a boca seca, os olhos perdidos, as mãos tremerem. Sento. Olho a cada cinco minutos no relógio; o tempo não passa. Uma ansiedade me pega de supetão; não sei reagir contra isso.
Finjo que não acredito, finjo sentir por convenção, finjo qualquer tipo de pretexto. As sensações se agravam e passo a olhar compulsivamente para o relógio. Desisto. Resolvo caminhar para espairecer as ideias. Sinto-me fraca, praticamente uma desistente. Desistente de que, afinal?
Durante a caminhada, entrego-me aos meus pensamentos; fico completamente submersa a eles. Não vejo cores, não vejo pessoas, não vejo nada. Na verdade só sinto; escuto conversas alheias em segundo plano, só sou capaz de ouvir minha própria voz em meu ouvido.
Entrego-me totalmente à minha distração, não desvio de ninguém, as pessoas que desviam de mim. Tomo essa atitude porque parece que não tenho controle do meu corpo. Só que de repente sinto que estou sendo puxada de volta. Vejo alguém em minha frente e sinto uma mão segurando a minha. Aos poucos vou voltando para meu estado natural, voltando para a realidade.
Aos poucos vou despertando e vejo você na minha frente. De tanto me conhecer diz exatamente o que eu estava fazendo. De tanto saber de mim, me pega pelo braço como quem não quer nada, vai dizendo o que fez naquele dia, me encaminha para um canto qualquer e me traz de volta à realidade; de volta à minha realidade.

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