segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Corredores

Portas e janelas são o que os corredores ainda têm. Dentro deles há aquele silêncio ruidoso. Certa confusão, onde só os passos pelos pisos ocos é o que se pode escutar. Algo que incomoda. Que ensurdece.
Procura-se a entrada. Nas mãos um calhamaço ímpar de chaves que parecem, na verdade, iguais. Nenhuma delas é capaz de abrir nada. Nem portas e nem janelas. E o que resta é o barulho imenso de tudo o que já aconteceu naqueles corredores.
São tantos existentes, tantos que já foram fechados sem aviso prévio. Tanta gente diferente já passou por eles que nunca se sabe quem é o morador do quarto principal.
Lembranças passam sem pedir licença. É fácil ver a infância passar ao lado enquanto o desconhecido futuro a observa atentamente, e nota que muita coisa mudou deste então. Que muita coisa foi perdida, mas que ainda se pode achar ou substituir uma característica por outra.
Logo depois outros flashes aparecem. E é ai que muitas de uma única pessoa só se misturam naquele pequeno corredor. Há a ingenuidade de uma criança, a malícia de um adolescente e a garra de um adulto. Há muitas fases que se misturam, se confundem e que não se entendem muito bem.
O barulho se torna tão grande que as chaves caem no chão e viram bola de futebol nos pés das crianças. Infância e adolescência pegam nas mãos da pessoa que ainda não se formou por completo, atravessam a porta e seguem juntas para outros corredores que ainda estão por vir. Descobertas.

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