Papéis jogados no chão, roupas espalhadas por toda casa. Fotos rasgadas e jogadas no lixo junto com todos os presentes que lhe dei. E você sentada ali, no canto do nosso quarto, com a cabeça entre as pernas.
Agachado, coloquei as mãos nos seus ombros na esperança de nossos olhos se cruzarem. Violentamente, você me empurrou e saiu andando. De fato, não entendia nada. Não havia explicação.
- Não há dúvidas. Não há dúvidas – dizia compulsivamente.
“Dúvidas de que?”, pensei. Desde que resolvemos morar juntos sempre lhe respeitei. Minha vida não era nada além de você. Não saia mais com os amigos, não jogava as noites nos bares a procura de breves paixões.
- Não há dúvidas. Não há dúvidas - repetia desesperadamente.
- Dúvidas de que? – perguntei irritadamente
Você olhou bem para mim e disse:
- Não preciso mais de você. Não te amo mais. E acho que nossos anos de vida em conjunto foi um desperdício.
Sem saber o que dizer e muito menos como reagir, acabei perguntando, depois de alguns minutos, quando você tinha tomado essa decisão. Agora, foi o que ouvi através de sua doce voz. Não me deixando falar, continuou:
- Pegue suas coisas, vá embora. É melhor assim. Prefiro sofrer ao te deixar ir. Prefiro antecipar qualquer tipo de dor que vá sentir por você futuramente.
- Baby, disse enquanto tocava seu rosto, o amor é assim mesmo. A dor é só o complemento do amor, mas não é amor em parcela total. Pensa melhor. Pensa em tudo que vivemos. Pensa em tudo o que ainda podemos viver. Temos planos, você sabe disso.
Ouvindo tudo o que eu disse, você, pouco a pouco, voltava a si. Olhava para mim atentamente e com os olhos respondia que sim. Reafirmava todos os nossos planos e concordava com cada palavra que ouvia.
- Baby, falei novamente, não posso lhe prome...
- Xiu, disse enquanto colocava a mão na minha boca. Não quero que você me prometa nada, só que me perdoe.
Abracei você como não abraçava faz tempo. Vai ver era isso. A rotina, inevitavelmente, estava tomando conta do nosso amor e fazendo de nosso sentimento algo desinteressante.
Juntos, pegamos tudo o que estava no chão. E decidimos de mãos dadas, que nunca mais trataríamos nosso relacionamento com descaso. Até o fim de nossas vidas. Até quando fosse permitido.
Um comentário:
Mais uma vez me identifico com teu texto. Esses ápices de relacionamentos, com fogueiras enormes geradas por uma centelha de desconfiança ou medo são uma constante na minha vida.
Mais uma vez fico a viajar no que você escreve, a imaginar a cena, a quase estar 'lá'.
Beijos, Gabi.
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