terça-feira, 7 de setembro de 2010

Entre check-ins e despedidas

Estações de trem, terminais de ônibus e pistas de decolagem. Passaportes, passagens e check-ins. Embarque e desembarque. Chegada e partida. Nem sempre é assim...

Despedidas, tchau que tem mais sabor de adeus e o silêncio que ronda a troca de olhares antes de cada um ir para o seu lado, são algumas das coisas que definitivamente não gosto.
Não há algo pior do que ver alguém indo embora da sua vida e não poder fazer nada para evitar isso. Não há coisa pior do que sentir que esse alguém não vai voltar tão cedo. Pensando bem, há algo pior sim.
Quem se despede pode ter como lembrança as palavras, os abraços e até mesmo as lágrimas. Pode escutar, no ato da partida, a promessa de volta, que apesar da distância, o telefone ainda vai tocar, a caixa de correio será recheada por muitas cartas e que a caixa de entrada só vai ter e-mail de uma pessoa.
Mesmo que não haja cartas, telefonemas, e-mails e até mesmo sinais de fumaça, ao menos aquele alguém foi visto por uma última vez. Por mais que seja doloroso, houve diálogo, o choro foi compartilhado e o “até outro dia” foi dito.
Pior do que tudo isso é não ter uma despedida. É saber, de supetão, que uma pessoa simplesmente vai embora e que ela não vai ser vista antes de partir. Por conta de disso, todos os lugares que foram frequentados enquanto a presença ainda existia vão carregar algum tipo de lembrança. E pode ter certeza, vai doer demais.
Dói demais saber que não houve abraços, não houve promessas de volta e nem lágrimas em conjunto. Que ninguém foi levado ao aeroporto nem ao terminal de ônibus e muito menos até a estação de trem.
Apesar de não acreditar, muitos dizem que há continuidade quando a despedida não acontece. Assim, caminhar pelas ruas, ir até os lugares preferidos, pegar o trem vez ou outra e até mesmo a volta para casa, ganham um sabor diferente. Parece, por um milagre divino, que vão colocar o tal alguém no seu caminho.
Aí dias se transformam em semanas que se tornam meses e a espera pelo reencontro passa a não mais existir. Aí fica perceptível que outras pessoas vão aparecer e tirar essa dor de foco. Que estações de trem, pistas de decolagem e terminais de ônibus na verdade são o nosso coração. Passaportes, check-ins e passagens são a maneira que cada um pede permissão para entrar na nossa vida.
Alguns simplesmente chegam, conseguem embarcar e ficam por um longo tempo. Outros são mais rápidos e desembarcam muito mais cedo. E na verdade, cada um aparece para cumprir uma missão e vai embora quando tem que ir. Com ou sem despedidas, é assim que tem ser.

Um comentário:

Anna Blume disse...

Tem gente que vem e quer voltar
Tem gente que vai, quer ficar
Tem gente que veio só olhar
Tem gente a sorrir e a chorar
E assim chegar e partir...
São só dois lados
Da mesma viagem

Milton Nascimento