quinta-feira, 28 de abril de 2011

Do outro lado da linha

- Qualquer coisa que você me disser não vai ter tanta importância quanto antes. Você me disse tanta coisa ontem que eu fiquei pensando...

Essas foram às únicas frases que escutei, de maneira sussurrada, da boca do rapaz de listrado que ocupava uma das mãos, o ouvido e a boca com o celular. Do outro lado da linha, poderia estar qualquer um. Mas pelo o que aparentava, certamente, a conversa era de namorados ou ex-namorados ou ainda namorados.
Não me pergunte o que aconteceu no dia anterior. Não me pergunte como era a pessoa que estava conversando com ele. Só sei que no diálogo não havia desespero. Ele falava calmo. Mantinha o tom.
Seria óbvio dizer que a moça do outro lado da linha fez algo que o magoou muito. Ou não. Talvez o rapaz tenha a magoado e ela reagiu de forma equivocada. No calor da discussão, devem ter dito algo que não devia. Ou não.
O pouco que ouvi, o muito que pensei. O suficiente para me fazer tirar os olhos do livro e por instantes, achá-lo desinteressante e começar a imaginar. Imaginar as lágrimas caindo dos olhos dela ou o choro interno. O desespero ou a calma. A emoção ou a razão na hora de solucionar essa questão.
As palavras do rapaz foram cortadas ao meio pela voz do maquinista que anunciava o nome da próxima parada. Em segundos o trem parou. Em centésimos de segundo as portas se abriram.
Saímos por portas diferentes.
Misturei-me na multidão. Acabei o perdendo de vista. E mesmo sabendo que nunca, de fato, saberei sobre o que aconteceu de verdade, prefiro acreditar que tudo acabou bem. Ou melhor, que recomeçou bem.

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