sábado, 14 de maio de 2011

Dez segundos

Uma das primeiras coisas que faz quando abre os olhos de manhã é passar a mão no lado direito da cama, como se estivesse à procura de alguém. Percebendo que está sozinho, diz bom dia em voz alta. E sem saber, obtém resposta do outro lado da cidade. “Bom dia, meu amor”.
Toma o café da manhã ao som de sua banda preferida. Troca de roupa, coloca um livro na mochila, o MP4 e o celular no bolso e sai para trabalhar.

Do outro lado da cidade, ela ainda dorme. E mesmo dormindo, responde ao bom dia que ele disse logo que acordou. Na realidade, sonha. Sonha com o final de semana. Em vê-lo novamente e sentir, antecipadamente, a saudade que ainda está por vir.

Sai de casa apressado e preparado para pegar o transporte lotado. Entra na estação de trem e se depara com um mar de gente. Apesar de ter um livro como companhia e de poder ouvir suas músicas preferidas, preferia estar em casa. Longe do caos da cidade. E junto dela. Só dela.
Mas mesmo assim enfrenta tudo porque sabe que dias melhores virão.

Ao mesmo tempo em que ele chega ao trabalho, ela desperta. Se descobre, se espreguiça e antes de se levantar, pensa que é ótimo ter em quem pensar. Que é maravilhoso tê-lo e saber que o sentimento quem um tem pelo outro é recíproco.
Toma o café da manhã desejando a companhia dele. Escolhe sua roupa e logo em seguida sai para trabalhar.
Como trabalha em lado oposto, desconhece o que é horário de pico e sempre pega trem vazio. Por isso, consegue se sentar tranquilamente. Tira um livro da mochila e lê até o seu destino.

Ao mesmo tempo em que ela chega ao trabalho, ele já trabalhou por três horas. E mesmo assim um pensa no outro. Desejam estar mais próximos, trabalhar menos horas para poder se encontrar depois.
A saudade é tanta que, às vezes, trocam mensagens apaixonadas. Declarando todo o amor e a vontade de estar mais próximo naquele momento.

Ambos terminam o expediente no mesmo horário. Ele pega trem lotado e tem como destino a sua casa. Ela trabalha a vinte minutos de onde estuda e por isso vai a pé até o local.
Antes de pegar o metrô, ele liga para ela. Deseja um bom estudo, comenta de sua saudade e diz sobre seu sentimento. Ela, esperadamente, abre um sorriso, sente os olhos encherem de lágrima e deseja que os cinco dias da semana passem muito rápido.

Quando ela chega onde estuda, ele acaba de chegar onde mora. Quando as aulas começam, ele está cuidando da casa. Liga o computador, escreve alguma coisa, ouve música, lê mais um pouco. Toma banho e come algo.

Sai da aula e pega o transporte. Ansiosamente deseja ouvir a voz dele. Eis que o telefone toca. E quando não toca, ela liga. Se não liga, espera. E se conversam, falam de como foi o dia, do que pretendem para o final de semana.

Ela chega em casa enquanto, no outro lado da cidade, ele dorme. Depois de um banho, ela se alimenta. Depois de se alimentar, dorme.

Antes de dormir, ele olha para o lado direito da cama e sente que ela não está lá. E mesmo assim, deseja boa noite e dorme com a saudade no peito.

Antes de dormir, ela deseja estar com ele. Poder beijá-lo, dizer boa noite e abraçá-lo para poder descansar. E mesmo assim, diz que o adora demais e dorme saudosa.

Cinco dias da semana. 120 horas no total. Cada um num rumo de diferente. E mesmo longe, estão ligados em pensamento e coração. Desejando que os dias passem rápido para poderem, o mais rápido possível, matar a saudade que se acumulou no decorrer das intermináveis horas.

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