Já previa o retorno de Olavo e por isso, preparei-me para tal. Fiz mandingas, promessas e orações. Cheguei até a pedir missa de sétimo dia para que ele me deixasse em paz.
De antemão, eu sabia que o assunto da nossa possível conversa seria o mesmo do último encontro. Sabia também que ele não me daria sossego e encontraria mil maneiras de importunar meu sono.
Há dias tenho dormido bem, algo que me surpreende muito. Não sonho e se sonho, não me lembro. Não há surpresas e não há uma viva alma que consiga me despertar antes do momento exato.
Felicidade a parte, fatos estranhos aconteceram ontem. Apesar de não produzir em escala industrial, sempre encontro um jeito de escrever. Procuro me inspirar em conversas, diálogos alheios e até mesmo em situações criadas pela minha mente.
Como é de praxe, abri o caderno vermelho e puxei a caneta piloto azul do porta-treco. Rabisquei algumas palavras na primeira folha em branco que encontrei. Em seguida, risquei-as. De fato, não estava em um dia muito produtivo.
Decidi reler os escritos para ver se algum deles me servia de inspiração. Ao folheá-los, notei a ausência de dois textos. A saga de Olavo não estava mais lá. “Bem que ele disse que encontraria mil maneiras de me perturbar”, pensei.
Na última página do caderno havia um bilhete:
Entre o céu e o inferno, farei de tudo para que você não faça com os demais o que fez comigo. Assassina impiedosa, metida a Deus tirano e soberano, pare de acreditar que você pode transformar os outros em fantoche.
Em formato de cinza ou até mesmo encarnado, encontrarei inúmeras maneiras de lhe impedir que continue com essa barbárie.
Levei comigo a minha saga. Não quero que você use meu nome em vão.
Boquiaberta, joguei o caderno longe. O coração presumia taquicardia. A boca de tão seca, pedia água. Os olhos marejavam, enxergavam vultos até o momento em que tudo escureceu. Caí no chão.
Não obstante, Olavo se aproveitou dessa situação e invadiu minha mente. Repetiu o que escreveu e acrescentou: “Proponho um acordo: se você parar com tais atitudes, permito que desperte”. Sem pensar duas vezes, cedi.
Em poucos instantes, tornei a viver, mas não cumpri o prometido.
Olavo já deve estar ciente disso e armando alguma falcatrua contra mim.
Vamos ver quem ganha essa batalha. O criador ou a criação.
Para entender melhor:
In Memorian
Relato de um criador em crise
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