Esse não é um romance convencional, daqueles que começa antes do amanhecer e nem é tão recheado de encontros e desencontros. É apenas uma história de um casal que escuta Los Hermanos em cantos opostos da cidade e que na realidade nem sonhavam em se conhecer.
Ele, que tinha a voz parecida com a do Rodrigo Amarante e que era completamente apaixonado por desenhos animados. Passou a infância inteira assistindo He-man e chegou até a comprar uma miniatura de tal personagem com seu primeiro salário.
Ela, uma mistura da doçura de Amelie Poulain com a vontade de viver de Clementine. Não sonhava com um Joel e muito menos com um Nino, e nem pretendia apagar alguém de sua mente. Gostava de Los Hermanos desde a adolescência e assistia o dia inteiro A Bela e a Fera quando era criança.
Ambos viviam na solidão, idealizavam um tipo de romance ideal. Chegavam a se encantar, na realidade era o máximo onde conseguiam chegar. Gostaram de poucas pessoas no dia, porém, nunca conseguiam se ver com alguém ou até mesmo completamente apaixonados. Isso até se conhecerem.
A principal diversão dela era freqüentar grandes livrarias. Mesmo quando não tinha dinheiro era o único lugar que gostava de passar seu tempo. Ficava horas lendo trechos de livros, observando as capas de alguns DVDs e ouvindo música. Foi justamente ai onde o encontrou.
Ele também gostava muito de ler, mas era completamente apaixonado por música e ficava horas ouvindo as mesmas coisas. Podia ir duas ou três vezes por semana na livraria e todas as vezes escutava as mesmas músicas.
Quando escutava Los Hermanos cantarolava sem se preocupar se tinha alguém perto ou não. E justamente nesse dia que ela estava lá, vendo os mesmos CDs e ouvindo praticamente as mesmas músicas.
Escutou alguém cantando Casa pré-fabricada e começou a observar todo mundo que estava ao seu redor. Percebeu que a voz surgia de trás de suas costas. Se virou e enxergou um rapaz de cabelo preto, que aparentava 1.68 de altura, vestia uma camiseta azul e uma calça escuta, e nos pés um all star – bem surrado por sinal. Ficou completamente encantada e resolveu continuar a cantar de onde ele tinha parado.
Logo que notou que estava acompanhado, não hesitou e se virou rapidamente. Os dois se olharam, e passaram horas desse mesmo jeito. Ela já se sentia completamente encantada; pode quão belo ele era. Ele, logo que se virou, reparou que ela trajava um vestidinho preto juntamente com uma meia calça da mesma coisa, e que nos pés usava um all star de cano médio. Reparou que tinha os cabelos bagunçados e os olhos profundamente vivos e curiosos.
Chegou perto como quem não quer nada e perguntou se gostaria de tomar um café. Foram para uma cafeteria perto de onde estavam. Ambos se sentiam diferentes. Aos poucos foram descobrindo mais coisas em comum e ficaram ainda mais encantados um com o outro.
Parecia que se conheciam há anos, que tinham passado pelas mesmas coisas juntos. Ela sugeriu uma ida ao cinema, ele topou. Resolveram pegar a sessão das seis da tarde. Comeram pipoca e jogavam a mesma um no outro. Divertiam-se por tão pouco, mas eram felizes.
Logo que o filme acabou, ela saiu correndo pela chuva. Ele corria atrás dela. Jogavam água um no outro; se divertiam, brincavam e se apaixonavam sem perceber.
Cantaram outras músicas de sua banda preferida. Ele a chamou para ir até sua casa até a hora que a chuva passasse. Ela topou e tomaram uma xícara de chá quando chegaram.
Ouviram mais músicas e o primeiro beijo aconteceu ao som de Casa pré-fabricada – a música que deu início a tudo. Bem baixinho, quase igual a um sussurro ele dizia, declamava e cantava que: “canta que é no canto que eu vou chegar, canto teu encanto que é pra me encantar, canta para mim qualquer coisa assim sobre você, que explique minha paz, tristeza nunca mais.”
Ela se emocionou e se sentia perdidamente apaixonada – pela primeira vez na vida. Infelizmente a chuva passou e teve que ir embora. Obviamente ele a acompanhou até a estação de trem. Já diziam que se adoravam, que queriam se ver e que não imaginavam que algo assim fosse acontecer do nada.
- Acho que as coisas precisam acontecer do nada como em “último romance”, ela disse.
- Pois é, nunca imaginei que isso fosse acontecer comigo. Não cheguei a pecar para te amar de verdade, mas as coisas funcionaram como naquela música Retrato pra Iaiá, principalmente naquela parte: “deixa ser como será, quando a gente se encontrar no pé o céu de um parque a nos testemunhar. Deixa ser como será, eu vou sem me preocupar e crer pra ver o quanto posso adivinhar.”
- Verdade, não tinha pensado nisso – olhou espantada
- Bom, promete que nos veremos...
E no dia seguinte viveram a mesma história novamente. Viveram a mesma história todos os dias, meses e anos que esse amor durou. E em todas as vezes se sentiam como aquela menina do vestidinho preto e aquele garoto de camiseta azul que um dia se conheceram por um golpe do destino.
Um comentário:
Tudo tão perfeito, como num sonho... um casal que vivem em cantos opostos da cidade e que nem sonhavam em se conhecer... os livros e as músicas foram seu destino, hoje, reunidos eles estão, como na primeira vez.
Lindo, Gabi!
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