Às vezes fico tentando imaginar o que as pessoas fazem de suas vidas. Tento imaginar do que elas gostam de comer, ler e se elas odeiam algo também. Em certos momentos, em qualquer lugar que eu esteja, fico tentando imaginar o que cada um pensa. Tento adivinhar através da expressão fácil ou até mesmo por algum pequeno gesto que alguém deixe escapar.
Várias vezes já peguei gente com o olhar perdido, outras vezes reparo que sempre tem um que fala mais enquanto o outro é mais calado, mas reservado. Tem gente que sempre sorri, tem gente que só faz isso quando acontece algo de surpreendentemente bom.
Na minha época de colégio eu ficava imaginando como os professores lhe davam com a vida. Não esqueço até hoje de uma professora que tinha um humor que oscilava muito. Em um dia ela estava muito bem, no outro o oposto acontecia. Diziam meus colegas que humor dela mudava porque em um dia algo de bom acontecia e no outro algo de nada bom acontecia também. Isso era o óbvio. Como ela descontava tudo nos seus alunos, todos nós queríamos saber o que se passava. Até hoje não sabemos de nada, e acredito que ela esteja do mesmo modo ainda.
De qualquer forma continuo a querer deduzir o que cada um deve estar fazendo agora. Eu, pelo menos, acabei de almoçar e continuo a escrever, e escuto música ao mesmo tempo. No mesmo momento que escrevo deve ter alguém almoçando, lendo, trabalhando, pensando sobre alguma coisa.
Deve ter gente pensando em mim, pensando em alguém e até mesmo pensando na mesma coisa que penso agora – cujo é assunto desse texto. Confesso que gostaria de passar um dia inteiro com qualquer pessoa para poder observar as manias, o jeito que cada um se diverte, o que cada um gosta de fazer ou não. Queria poder observar os dramas da vida, o que faz cada ser humano feliz, qualquer coisa.
Por mais que a gente acredite que conhecemos nossos amigos e aqueles que estão ao nosso redor, nós não sabemos da vida de todos, não sabemos o que eles fazem quando não estão conosco. Não sabemos o que eles pensam, não sabemos de nada, só de nós mesmos.
Na realidade cada um sabe de si e se vai compartilhar algo ou não com alguém. Muita gente passou pela minha vida, já tive amigos que hoje nem falo mais. Há aqueles que fazem parte do que sou mesmo havendo distância ou qualquer coisa parecida, há outros que conheci faz pouco tempo,
Na verdade, com todos os exemplos, o que quero dizer é que há pessoas que conheci faz pouco tempo e que sabem mais de mim do que aqueles que conheço há anos. Isso por que alguns transparecem mais confiança do que outros. Para eu contar mais de mim, sentir liberdade para falar e sair dos assuntos triviais a pessoa precisa transparecer confiança, precisa me deixar segura de que qualquer coisa que disser precisa ficar entre mim e ela. E isso realmente acontece.
Enfim, o que me frustra é perceber que não sei de nada da vida daqueles que passam a metade do dia comigo – do mesmo modo que poucos sabem de mim. O que falta é espaço, oportunidade, e base de qualquer tipo de relacionamento: a confiança. Ela está escassa, difícil de ser encontrada e dividida. Ninguém confia em ninguém do nada, há dificuldades para construí-la. De qualquer modo prefiro continuar a imaginar, e só participar da visa daqueles que permitam que eu faça parte dela.
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