E a face estava tépida, como se estivesse sido tomada por um vento gélido naqueles dias cruéis de inverno. Apenas perambulava pela rua como se fosse um zumbi. Não sentia sua alma dentro de sue corpo, apenas andava, apenas respondia os impulsos de seu cérebro.
Era desprovido de sentir, não sabia o que se passava por dentro, apenas sentia um grande vazio. Andava pelas ruas como o olhar perdido, atrás de uma luz no fim de um túnel que ainda não tinha encontrado.
Passava na frente de lojas, bares, colégios e apenas era capaz de enxergar uma linha reta, sem nenhum tipo de visão panorâmica. Estava tão mergulhado dentro de si que era incapaz de notar o que se passava ao seu redor.
Sabia que no fundo era a causa e a saída de tudo. Tinha consciência de que podia solucionar seus problemas (se é que eles existiam), só que a força era o que faltava. Na verdade sentia um animal furioso enjaulado dentro de si que queria se libertar, mas não conseguia; parecia que existia alguém batendo nas portas interiores desejando algum tipo de escape.
Além de sentir que alguém batia nas portas interiores, notava que esse mesmo alguém possuía um calhamaço de centenas de chaves que nunca eram totalmente utilizadas porque se confundiam totalmente entre si.
De tanto andar os sapatos já estavam gastos. Na pele sentia uma quentura de uma febre devido ao mal agasalhamento. Só que no coração sentia um pequeno calor. Sentia que aos poucos aquele gelo ocasionado pelo vazio era preenchido por uma nova sensação.
Notou que o tempo nublado tinha se trocado por uma espécie de sol que aparecia de uma maneira tímida. Resolveu parar um pouco a longa caminhada e tentou reparar numa vitrine qualquer como sua expressão facial estava. De fato tinha mudado. Havia deixado de ser dura e raivosa, e tinha passado a ser um pouco mais leve e esperançosa.
Sabia que os problemas não seriam solucionados de uma hora para a outra. Tinha consciência de que sentiria tal vazio novamente. Sabia que tudo poderia voltar na mesma intensidade ou pior. Só que quando sentiu as luzes solares na pele, passando pelos poros, fazendo um longo percurso até chegar à alma, pôde perceber que ainda havia esperança. Encarou o sol como esperança e resolveu seguir em frente.
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