Resgatei os trajes dos anos 60 do meu pai e fui para o baile na rua da minha casa. Eu era novo por lá, ainda não tinha feito nenhuma amizade e para piorar minhas aulas só começariam na semana seguinte.
Obviamente pensei em não ir até aquela festa, mas eu teria me arrependido profundamente se não tivesse ido. Cheguei ao salão e todos olharam diretamente para mim. Todos devem se conhecer aqui; pensei. Todos sabem que sou o vizinho novo; conclui.
Claro que fiquei muito sem graça quando notei que realmente perceberam minha existência. Sentei na última cadeira bem na mesa de canto. Esperei alguém interagir comigo, ninguém se moveu. Levantei e fui propositalmente até o banheiro, ninguém se importou.
Confesso que me senti completamente isolado, mas mesmo assim levantei e fui buscar uma bebida. Eis que de repente deparei-me com uma menina linda. Ela tinha os olhos expressivos, trajava uma saia de bolinhas azuis e tinha os cabelos lisos.
Percebi que ela estava perdida, mesmo estando rodeada de pessoas. Seus amigos falavam, riam e bagunçavam, enquanto ela se mantinha com uma expressão de quem não estava ali.
Voltei até a minha mesa e continuei a observá-la. Ela mantinha a mesma expressão, mas o olhar... Eu já estava totalmente submerso dentro daqueles olhos; eram lindos e vibrantes, profundos e de ressaca.
Olhava de tal maneira para aquela menina que não conseguia mais disfarçar. Foi ai que você largou seu grupo de amigos, pediu licença e eu concedi, sentou-se bem na minha frente e depois de minutos a me observar perguntou meu nome.
Apresentamos-nos e perguntei o motivo de você não ter interagido com aqueles que estava. Você simplesmente olhou bem no fundo dos meus olhos e disse que estava se sentindo muito sozinha naquele monte de gente, e que estava desejando com todas as suas forças alguém para fazer companhia. Eis que apareceu você; disse com as maçãs do rosto avermelhadas.
Depois de horas de papo sem interrupção nenhuma, percebi que você era totalmente diferente de todas que tinha conhecido. Além de termos várias coisas em comum, descobri que a antiga desconhecida se guardava para alguém especial, que acreditava no amor e que queria ser apenas de uma pessoa só. Como eu gostaria de ser o escolhido; pensei em voz média.
Notei que ficou avermelhada, mas soube disfarçou muito bem. Depois de uns instantes concluiu sua fala dizendo que não tinha ninguém especial em vista. Não consegui disfarçar e esbocei um sorriso, chamei-a para dançar e você aceitou.
Levantamo-nos e fomos para a pista de dança. Em alto e bom som tocava aquela música lenta da época. Aos poucos fui chegando perto e com meu jeito desengonçado coloquei as mãos em sua cintura. Você envolveu o meu pescoço e ficamos horas nos olhando, até o momento em que beijei o canto esquerdo de sua boca.
Avermelhada, você deitou sua cabeça em meu ombro. Eu não ouvia mais a música, a única coisa que conseguia ouvir era sua respiração em disritmia. Num ato de impulsividade, tomei-a pela mão e levei-a para fora do salão.
O céu estava escuro – dando mais destaque para as estrelas. Fiquei segurando sua mão por horas enquanto você, toda linda, olhava para o céu. De repente nossos olhos se cruzaram, passei minha mão trêmula em sua face. Seus olhos se fecharam e ao mesmo tempo você se aconchegou na minha mão.
Aos poucos fui chegando perto. Fui chegando perto até o momento que beijei o canto direito de sua boca. Notei um pequeno estremecer seu, e para confortá-la resolvi te abraçar. Ambos estavam com a respiração diferente. Em uma fração de segundos a garota dos olhos expressivos me entorpeceu com seu próprio olhar. Foi ai que te beijei.
De seus olhos caiam lágrimas, de sua boca sai sussurros de “só tinha que ser com você”, do seu corpo só saia carícias para a minha pessoa. Eu estava completamente bobo, meu coração palpitava apaixonado.
Toquei sua mão, olhei bem nos seus olhos, abri um sorriso, envolvi seu ombro e resolvi caminhar contigo. A cada passo que andávamos equivalia um ano de que estávamos juntos. Eu teria me arrependido profundamente se não tivesse ido até aquela festa; eu disse ao despertar no dia de nosso aniversário de dez anos de casamento...
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