Por meses aquela tristeza me acompanhou. Fez parte dos meus dias assiduamente. Fazia companhia em todas as refeições, na hora do banho, quando acordava. Passava o dia inteiro escorando seu pesado corpo em mim.
E mesmo assim não me ausentei da vida de ninguém. Tive minhas fases malucas, mirabolantes, de total reclusão interna, mas sempre estive com aqueles que precisaram – e com aqueles que não também.
Cada um lida com seus sentimentos da melhor maneira. Cada um encara a si próprio do modo que convém. Sempre achei que me tornaria uma pessoa egoísta se me ausentasse da vida daqueles que gosto.
Não é por cobrança e nem por nada parecido, só que por muitas vezes larguei todos os balanços que faria, todas as conversas que teria com meu inconsciente para ser presente na vida das pessoas que considero.
Minha casa interior virou uma bagunça por conta disso. Os móveis perderam seus lugares certos. Os pertences acabaram se misturando com utensílios domésticos. Tudo virou uma baderna.
O período de reconstrução foi bem difícil. E para falar a verdade ainda é. Ainda me deparo com cacos de vidro quebrados no chão, com quadros tortos na parede e com muitos papéis que usei de rascunho para transbordar tudo o que queria dizer. Ainda tenho conflitos, piso em falso muitas vezes e chego até cair no sótão.
E mesmo com tudo isso não me arrependo de ter sido um pouco indiferente comigo. Cresci bastante mesmo com essa desordem. Só que agora é a minha vez de me arrumar por completo. De parar de tentar adivinhar porque tal pessoa não conversa comigo direito, de tentar entender porque determinadas coisas na minha vida não saíram da maneira que desejo. Há sempre tempo para tudo. E agora, mesmo não sabendo até quando isso pode durar, quero ao menos tentar me consertar e me libertar totalmente de tudo o que me fez mal um dia. Acho que também tenho esse direito.
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