sábado, 20 de março de 2010

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Meu diário tem as páginas em branco. E na verdade nem isso tem. Não há páginas porque não possuo um diário. Possuo apenas uma mente que não se cala e trabalha incessantemente no vasto mundo do sentir.
Queria eu ser Dorian e ter um retrato para transferir todas as mazelas desse mundo. Queria eu ser Dorian e poder transferir as marcas de expressões, as tristezas e as rugas que tempo após tempo, inconscientemente, vão aparecer na minha face.
Viveria uma realidade inventada. Traria comigo somente as coisas boas e não pagaria o preço de me achar totalmente diferente. Ninguém vive de achismos, de pré-julgamentos e de outros tipos relacionados a isso. Vive-se de uma forma pequena quando se é assim.
E na verdade não quero possuir um reflexo totalmente distinto ao que sou. Não quero olhar para o retrato e ver que o que está lá não coincide com que sou agora. Não quero ser Dorian novo-para-sempre-fisicamente e notar que a alma não é mais a mesma. Que perdi toda aquela vivacidade concedida a todas as idades e fases que a vida possui. E ainda por cima morrer dependente de algo que na verdade não faz parte da minha total realidade.
Ainda quero ser aquela fênix e renascer das cinzas a cada tombo que levar. Ter a possibilidade de voar até onde minhas asas puderem me levar. Ter a capacidade de aceitação durante os diferentes momentos da vida. Poder viver intensamente na junção de corpo+alma e me sentir completa por isso. E ser inteiriça como sempre fui; desde o dia em que aceitei a condição de ir e vir da matéria-cinza e voltar mais reluzente-forte do que fui anteriormente...
Não quero ser Dorian. Sou fênix.

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