Aquela marca de batom no seu colarinho denunciava exatamente o que você tinha feito na noite passada. Chegara com os cabelos umedecidos e com um perfume nada parecido com o meu. Inventara uma reunião. Dissera que tinha se atrasado para o nosso encontro porque seu chefe precisava mostrar os projetos da semana.
Nem a capacidade de ligar teve. Simplesmente não apareceu no restaurante. Me fez pagar um táxi para voltar à nossa casa. E chegou com a maior cara lavada. Mas na verdade os olhos te denunciavam.
Eles sempre tinham um brilho juvenil quando se encontravam com os meus, e não. Não. Naquele dia foi diferente. No lugar do brilho, vi culpa. Enxerguei uma névoa totalmente esbranquiçada que tentava por que tentava esconder algo de mim.
Mantive a compostura. Fechei os olhos para aquela situação na decisão de que descobriria tudo e com provas, teria uma conversa séria com você.
Poderia muito bem pagar um detetive. Arrumar mil maneiras de não me envolver totalmente com isso. Mas não. Simplesmente comecei a te seguir. E ao poucos fui descobrindo os locais que freqüentava.
Seu emprego era uma farsa. Você passava metade do tempo parado com seu carro na estrada do nosso lar para a cidade. Quando não estava lá, parava no primeiro restaurante que encontrava e sempre saia de lá acompanhado da mesma mulher.
Vocês eram discretos. Paravam no mesmo canto para conversar e sempre se despediam com um beijo no rosto e um abraço.
Fiz o possível para voltar antes de você. Esperei sua chegada sentada no nosso sofá – como de praxe, e deixei em cima da mesa algumas fotos que ilustravam exatamente o que você tinha feito naquele dia. Do lado esquerdo da mesinha central, deixei suas malas arrumadas. Decidi que não aceitaria nenhum tipo de desculpa ou explicação. Aquela mulher poderia ser o que fosse, ter ou não qualquer grau de parentesco que eu não me importaria e terminaria ali mesmo a nossa junção.
Só que naquela noite fui surpreendida e você a trouxe para a nossa casa. Logo que entrou nem esperou que eu dissesse algo e já a apresentou como “essa é a minha filha”. Disse que me viu te seguindo e que não poderia mais esconder essa realidade de mim. Alegou que tinha descoberto faz pouco e que a outra tinha sido gerada em uma aventura da universidade.
Perguntei sobre o seu emprego e me disse que resolveu tirar umas férias antecipadas para poder averiguar se realmente a menina exista ou não. E chegou a tirar de sua maleta um exame que comprovasse o grau de parentesco entre vocês dois.
Indiferente e cheia de certezas não acreditei em nenhuma palavra que sua boca proferiu. E ao invés de te colocar para fora de casa, resolvi que quem sairia seria eu. Peguei minhas coisas, coloquei no porta-malas do meu carro e com mil pedidos de perdões durante o arrancar do automóvel da garagem de nossa casa, fui embora. E até hoje, depois de anos e de tantas tentativas suas, e mesmo sabendo que o nosso amor ainda é vivo, não decidi ainda se volto ou não...
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