Criei Olavo numa madrugada fria de inverno. Durante a composição da personagem escutei The Akara do Beirut - música que por sinal, me lembra motivos fúnebres.
Na realidade, não esperava matá-lo, mas sabe como é: o desfecho se dá de acordo com o desenrolar da história. Por essa e por outras, infelizmente não pude evitar o acontecido.
Personifique-me na mulher que o conhecera num banco de estação, e por isso, perdi meu nome. Tive que deixar de lado minhas características físicas, mentais e psicológicas.
Antes que me julguem, não estou reclamando de ter tomado essa atitude. Gosto dessa liberdade de ser qualquer pessoa nos textos que escrevo, mas o não é esse o rumo da prosa.
Na mesma madrugada gélida, depois de ter criado a historieta de Olavo, decidi entregar-me a inércia, já que estava muito cansada. Como de costume, encostei a cabeça no travesseiro e cobri-me com os dois edredons que uso para me proteger do frio. Quando estava prestes a chegar ao sono profundo, senti alguém cutucar um dos meus ombros.
A princípio relutei em abrir os olhos, mas a insistência era tanta que aos pouco fui os abrindo. Por estarem a muito tempo fechados, enxerguei apenas um vulto se mexendo.
Apesar de ter dificuldades para reconhecer o rosto, senti que os traços eram familiares. Antes mesmo de eu proferir o nome dele, Olavo se apresentou. Percebendo a minha inquietude, pediu para eu manter a calma e me disse que só queria conversar sobre o motivo de tê-lo abandonado.
Tentei explicar que não tinha o deixado, e que por escrever, sentia a necessidade de me personificar. Raivoso, ele me ameaçava. Esbravejava e dizia que não tinha retornado das cinzas para nada. Chacoalhava-me, apontava o dedo no meu rosto e jurava que se não me levasse junto com ele, assombraria-me durante toda vida.
Desesperada, peguei o caderno de criações e fui citando os papéis que já tivera em alguns textos. Tal atitude só o fez odiar-me ainda mais. Acusou-me de assassina, manipuladora de vidas e com a mão em meu pescoço, estava decidido a me matar.
Antes mesmo de tomar essa atitude, ele concedeu-me um último pedido. Pedi o simples: uma folha de papel e uma caneta. Se era para morrer, pois que fosse escrevendo.
Acordei sem saber o que tinha acontecido. Na escrivaninha ao lado da cama, encontrei o par de óculos que ele deixara de herança.
Nunca esquecerei o dia em que a criação se revoltou contra o criador.
Olavo, descanse em paz.
2 comentários:
Gabi, Gabi... Quanto tempo não apareço por aqui, não é? Confesso que relaxei um pouco em relação ao blog. Na realidade, a inspiração estava querendo ser minha amiga. Mas voltei, ao menos por enquanto.
Seu texto como sempre está lindo e surpreendente. É isso que eu gosto em ti, tu consegue surpreender a cada final de texto. Não li os outros textos em que Olavo protagoniza, porém ainda quero lê-los. Um beijo, @pequenatiss.
Altamente criativo. Parabéns Gabi. Adorei! Beijos. Au revoir. @ncamposalves
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