sábado, 2 de fevereiro de 2013

Falava-se pouco de amor

Assim como um copo cheio, o coração transbordava em sentimentos. Teria dito as palavras mais bonitas, caso não tivesse sido interrompida. Interrompida pela vida, pela vontade louca de falar e não saber se aquele seria o momento propício. O complicado era saber que ele estava bem na sua frente, bonito e arrumado. Ah, e o cheiro! Aquele perfume magnífico, que fazia todas as pessoas virarem a cabeça quando passava. O aroma era de matar, de tão delicioso.

Falava sobre os planos para o futuro, dividia as principais notícias do momento e gesticulava igual a um doido. Um doido que não se aguentava de tanta felicidade por tudo de ótimo que tinha ocorrido em sua vida. E ela, sentada, a mão direita apoiada no queixo e aquela cara de imbecil, típicas dos apaixonados, dos últimos românticos. Não sabia como ele não percebia. “Só podia ser um idiota”, pensava.

Apesar dos frequentes encontros, tratar de sentimentos sempre era o último tópico da conversa. Pouco se sabia sobre ele. Dizia que já tinha se comprometido por longos anos, cogitava a possibilidade de se casar um dia e vivia se contradizendo quando comentava que não queria dividir o mesmo espaço com alguém. Tantas afirmações e negações mais pareciam aquele jogo de “mal me quer - bem me quer - mal me quer - bem me quer”, cujas palavras tomavam lugar das pétalas de alguma flor.

Quando não falava de si, não desgrudava os olhos da moça. Balançava a cabeça em sinal de compreensão, arregalava os olhos de acordo com o que ouvia e dava sorrisinhos de canto de boca quando pressentia que ela diria algo muito bom. Quando sentia que seria necessário reconfortá-la, pegava em suas mãos e acariciava. Esta atitude a deixava corada e sentia as borboletas voando em seu estômago. Elas queriam sair pela boca, mas se continha. Em um dia típico, compareceu à lanchonete que se encontravam. Esperou meia hora, 40 minutos, uma hora, duas horas, e nada. Telefonou e apenas ouviu a voz do rapaz na mensagem da caixa postal. Antes de ir embora, levantou-se e foi em direção ao balcão pedir um lanche. Aguardou mais alguns minutos, retirou o sanduíche e quando caminhou para a saída, surpreendentemente foi chamada por um dos garçons, que lhe entregou um bilhete.

Papel de guardanapo, tinta azul e uma grafia praticamente incompreensível. Tentou deduzir o que estava escrito e, sem saber se estava se enganando ou não, custou a entender que ele tinha partido. Partido sem se despedir e sem dizer o motivo. Sentiu-se mal. Queria morrer. Mas no fim das contas notou: “foi melhor assim, o amor nunca foi um tema em comum. Falava-se pouco”.

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